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Fotografias:Pedro Pegenaute
Descrição enviada pela equipe de projeto. O projeto localiza-se no limite Norte do Casco Histórico de Pamplona, ao final do platô sobre o qual se assenta, junto ao Paseo de Ronda, limite do recinto murado.
Tratava-se de uma obra promovida pela administração pública com o objetivo de regenerar o casco histórico mais degradado dentro do plano de habitação municipal.
O projeto estava incluído num plano urbano de grande interesse. A nova edificação, que ocupa o lote de uma outra edificação existente que foi demolida, deveria completar o bloco existente e dar frente a um novo vazio urbano, uma praça de nova geração sobre a muralha. Graça à difícil conjuntura econômica, este plano urbanístico foi adiado, incorporando ao projeto a definição de uma passagem de caráter semiprivado que permitiu viabilizar a iniciativa.
O programa consistia, basicamente, em habitações destinadas a realojamento, cujo detalhe concreto do programa era desconhecido no momento do concurso. Exclusivamente se sabia que tratava-se de seis habitações, para seis realojamentos de seis famílias e, por tanto, com seis programas diferentes, além de locais comerciais no térreo, para potencializar a atividade comercial da área e a recuperação de uma abóboda medieval situada no sótão do edifício anterior.
Apesar da incerteza inicial a respeito do programa, a proposta do concurso optou, como ponto de partida, por uma estratégia organizacional para solucionar as necessidades dos futuros realojados. Esta planta, atendendo à situação urbana que se gerava, arremetia um novo planejamento de habitação diferente às do entorno, onde a pauta habitual situava as zonas nobres vinculadas às ruas, deixando os dormitórios no interior. O projeto vinculou a posição dos dormitórios com as ruas laterais e as áreas mais públicas das casas à praça de nova geração; e, entre ambas, situados o corredor de quartos úmidos (banheiros e varais) que faziam, ao mesmo tempo, mais legível a estrutura organizadora planejada. Por último, as cozinhas eram abertas aos "estares", separadas com um vidro, de forma coerente ao caráter mais público destes locais.
Ao mesmo tempo, optou-se pela solução do núcleo de comunicações otimizado, frente a outras a priori mais "singulares" a nível de resolução espacial e formal da escada, que premiria uma ocupação de superfície menor e, portanto, mais metros quadrados liberados para uso da casa em um lote tão reduzido. Sua posição em planta e seu tamanho reduzido permitia configurar, por um lado, uma casa de 40 m2 e, por outro, uma de aproximadamente 65 m2, em cujas superfícies, com certa naturalidade e simplicidade, poderiam ser ocupadas com um apartamento e uma casa de dois dormitórios com a pauta organizadora já estabelecida.
A proposta do concurso vinculada a esta estratégia de ocupação de habitação, entendeu que o trabalho em planta estava esgotado, e que qualquer manipulação da mesma não permitiria uma solução melhor no que se refere a aproveitamentos e critérios de implantação. Por outro lado, era possível uma elaboração do corte dos espaços de casas que permitisse uma maior flexibilidade como resposta ao futuro incerto dos destinatários. Desta forma, era possível conectar espaços em altura, de uma habitação de cerca de 40 m2 a outra de 75 m2 e de uma de 65 m2 a outra de 90 m2, duplicando meia planta, e e chegar, inclusive, a outra de 120 m2. Portanto, este planejamento não só representava uma solução ótima, mas também podia abarcar o espectro habitual das superfícies dos futuros programas desconhecidos naquele momento.
O núcleo de comunicações, apesar de sua configuração desde a otimização, entendíamos que poderia haver mais presença de uma simples sucessão de escalões, onde discorre o movimento de subir ou descer. Esta se formalizou com passadas de concreto que deixavam livres os vãos e, assim, permitiam o acesso da luz: entender a escada como um espaço singular mais além do funcional e ganhar a profundidade visual apesar de seu tamanho reduzido.
No térreo, situam-se dois locais comerciais vinculados ao espaço público, localizado em ambos os lados do núcleo de comunicação. A um deles, integrou-se o espaço abobadado do sótão preexistente, do século XVI, que deveria ser preservado.
O projeto, desde o início, pretendia apresentar-se como a união de duas peças seguindo a pauta geradora do casco histórico, onde a soma de peças geradas desde o espaço público conformam as torres. Desta forma, garantia-se uma integração mais natural, fazendo que suas fachadas, sua escala, fragmentação e composição desse uma certa continuidade urbana ao existente.
O desenho das fachadas atende a duas situações diferentes quanto a posição no espaço público: por uma lado, a partir das ruas, buscando uma certa presença anônima da proposta dando continuidade ao que acontecia ali: ao traçado normativo e rigoroso da ordem axial em Descalzos, e sem pauta regular aparente conseqüência do caráter de "traseira" dos edifícios no Paseo de Ronda, e por outro, a partir da nova praça que transformava da empena em um elemento fixo singular fora de referências e contextos normativos. Esta fachada de plano duplos tornam as aberturas maiores, grandes janelas quadradas em relação com o espaço enfrentam a paisagem distante, com uma ordem livre que nos permite movimentar-nos entre a incerteza do corte e do programa.
O tratamento da empena da Escola Infantil ajacente incorporou-se ao projeto, acabando de formalizar o espaço da paisagem. Esta lona de material misto de fachada se prende e absorve as irregularidades deste edifício que foi mantido.
Além das questões mais organizadoras e de outras como o cuidado da escala, a fragmentação e adição de peças. O projeto tem que lidar com cor e textura de seu acabamento pretendido e conviver com o antigo, com a marca do tempo feito pela matéria já desgastada. Deve lidar com o desenho e composição de aberturas na matéria, com os vazios em esquina e o artifício da gravidade. Com a austeridade cromática e material que trava o passar do tempo, de seu traço seco, de evitar o supérfluo que o tempo acaba apagando, como mecanismo integrador e como todo isso se adaptará materialmente à "velocidade do tempo" e do já presente. E como a obra de arquitetura entra dentro de uma correlação de ações no tempo do que ali aconteceu, entendendo que nossa atividade forma parte de uma cadeia.